terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O que ficou de bom?

E então o curso acabou. Pelo menos as aulas, pois ainda tenho dois trabalhos pra entregar - sem contar o trabalho final (mas este já engatilhado com aval do orientador). O que ficou de bom? Vejamos: além do que aprendi sobre Literatura, e não foi pouco (já que tivemos professores e aulas excepcionais), parece-me ainda que o mais importante foi a amizade. Construída aos poucos, formando fortes laços. Só tenho a agradecer a todos vocês e desejar que esses laços não se desfaçam. Não é pieguice. Tá bom, talvez um pouco. Mas, ah, azar! É fim de ano e todos temos o direito de ser um pouco piegas nesta época. Só nesta época =)

Beijo a todos,
Carla Soares

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Homem de Barro (um, dois, três e já...)

Um, dois, três e já...
Três vozes contam até três,
Três mãos lançam pedras perturbadoras...
É assim, Pedro, que, às vezes, se acorda.
Nem que seja para o nada, para o vazio,
ou do nado, do vazio.
Não é preciso aurora boreal, nem as leituras de Nietzsche.
Precisa-se apenas... de pedras.
Sobretudo e antes mesmo de tudo, de mãos que as lancem.
Um, dois, três e já...
Vá Pedro! Junte as pedras, te reconheça nelas!
Elas já fazem parte de ti!Limpe-as com teu sangue!
Sinta as pequenas pedras que formam a digital da pedra.
Agora elas também são tuas digitais: pacto.
Vá Pedro! Vá para a invenção dos homens: o mundo.
Não ouça nenhum anjo vadio,
Vá ser pedra na vida! Que o mundo é feito de pedras.
Ou podes contar até três...
E lançá-las de volta...livrar-se delas...livrar-se de ti mesmo.
E ficar... sem o febril fremir das pedras.

(Depois da apresentação da Cris...da Educação pela Pedra...não podia deixar de falar sobre PEDRAS, uma das minhas palavras favoritas)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O guarda-roupas

Hoje resolvi arrumar meu guarda-roupas
e enquanto desamontoava e dobrava as peças
ia tentando organizar minhas idéias
o meu quebra-cabeça interior

Separei roupas que só precisavam ser lavadas
separei umas que sabia que nunca mais usaria
e outras que há muito tempo não usava
mas que continuavam ali
pesando, ocupando meu espaço
meu tempo, minha memória

Libertei-me

Preparei uma sacola grande de roupas
que já não são minhas
são de outros
e depois serão de outros
e outros

O meu guarda-roupas?
quase vazio, mas organizado e limpo
pelo menos por agora

As minhas idéias?
quase vazias, mas organizadas e limpas
e minhas

As roupas é que seguirão
de mão em mão
até virarem farrapos

Povo, esse blog tá muito parado. Quero ler o que meus amigos escrevem.
Beijos a todos!
Carla

terça-feira, 26 de agosto de 2008

CACHORRO SEM DONO

Ela se apaixonou, justamente, por seu ar perdido de cachorro sem dono.
Ela foi abandonada.
Ele era só cachorro

Graça Rodrigues

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cai uma chuva fina

Janela fechada bordada de cinza
cai uma chuva fina uma teima atroz
o frio cai e congela as horas
paira um decifrar constante
num enrolar vagar e indissolúvel

Janela aberta bordada de asfalto
paira uma alma em pedaços
depois cai

Janela aberta no décimo andar
bordada de cinza de asfalto de dor
convida a chuva fina que cai
a espreitar o desbotar de uma vida
de uma alma que não viu a chuva
dar lugar ao sol no dia seguinte

Carla Soares
(Pra cortar os pulsos com bolacha Maria e ouvindo Elis...)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Do corvo ao papagaio, a morte carnavalizada.

Lendo A Filosofia da Composição, deparei-me com a declaração que Poe fizera a respeito da sua obra O Corvo (The Reaven). Confesso que fiquei surpresa com sua idéia inicial de colocar um papagaio como a ave agourante da trama, sem mais, pus-me a imaginar aquele singelo pássaro verde, irônico e engraçado à maioria. Pela carnavalização, um papagaio como personagem principal de uma cena melancólica traria risos e a morte de Leonora seria comemorada. Imaginei o "nevermore" da cocota (papagaio no idioma gaúcho), "nevee... moóórrr", além do lugar onde ela se situaria: ombro do amado, coçando, ou melhor, consolando com seu bico côncavo a orelha do rapaz... O "nevermore" seria uma resposta em troca de um biscoito, ou de uma semente de girassol e a voz rouca do bichinho inverteria o sentimento de dor, a tradicional dor da morte. A cor verde do pássaro seria um pastiche da cor preta azarada. O papagaio viria a ser, nessa estória, uma esperança ao rapaz... "uma renovação através da morte" (como afirma Bakhtin). Sinto muito que Poe não pensou em escrever O Corvo na versão satírica, seria uma obra prima da Paródia... Um prato cheio para os estudiosos em Literatura Carnavalizada... Bakhtin que o diga (mas que este não ofenda a paródia moderna!)

Abraço. Larissa Pujol.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Descrevo-me

Palavras
Larissa Pujol

Palavras, palavras
Elos entre minha caneta e meu caderno
Ponte entre as letras e meu interno
Palavras, palavras
Volto à terra lavra
Mostro rugas que me valham
Cada letra aqui enterrada
Sentimentos, sentimentos
Tudo ao seu contento
À ponta da caneta
As palavras giram o planeta
Chamadas de monges velhos
Do alto ao debaixo do inferno...

(Poema apresentado em julho de 2008, por Larissa, na abertura do XI Congresso Internacional da ABRALIC, em São Paulo.)